quarta-feira, dezembro 03, 2003

Nenhum dia é um dia se é só para ti
e ainda que seja para todos
Ninguém o prende porque não é compacto
nem está preso a uma coluna ou a um poste
O dia passa e nós não vemos o seu espelho de cinzas
mas dele vai ficando o que não fica
Um dia nunca é o teu dia nem o dia que se segue
a outro dia e que por outro dia será seguido
O tempo caminha para si mesmo num cículo perene
e todas as suas sequências formam o zero absoluto
Ele é a eternidade no seu espaço de ausência
e a finitude de cada momento num entrançado indiscernível
ao qual ninguém pode arrancar um pedaço de tempo
É vão nós numerarmos as horas e os minutos
porque o tempo flui alheio às nossas vidas
com a sua roda abstracta em torno de si mesmo
Nós estamos assim presos nesta armadilha metafísica
que sobreviverá eternamente como se nada se passasse
na sua armação monótona e incessante


António Ramos Rosa

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