segunda-feira, junho 27, 2011

Lá ao longe

O rio não é como uma música que se ouve muitas vezes. Lá ao longe, apesar de o reconhecermos e ser familiar, não se esgota nem nos esgota em milhares de dias que o contemplemos. Outro dia era um mar e o outro lado, nitido ao pormenor, era com se de outro continente se tratasse. A ponte com a sua alfândega, por certo, a outra margem ao alcance do olhar ainda que não acredite que as aves de aqui lá vão. No dia seguinte já o outro continente havia desaparecido numa neblina fantasmática luminosa, uma bruma de brilho como se o mar se evaporasse um pouco com o calor. A vontade de cruzar a fronteira para saber se a terra ainda estava lá. Teriam as aves ido lá espreitar?
O espaço que vai de mim a ti, quando nos encontramos, não é este rio. Mas tu, podias ser a outra margem. Uns dias visível, outros perceptível e ainda os outros, em que não se sabe se estás lá a não ser nos sonhos que entretiveram pontes e alfândegas.

terça-feira, junho 14, 2011

Esta noite há um eclipse total da lua e eu gostava de subir a uma torre ou a um terraço. Poder ver a luz a reaparecer no teu rosto. Em vez disso a burocracia e o economato queimam-me as pestanas, envelhecem-me a íris e mais alguma coisa de que não dou conta.

Vejo a minha geração e como gostava de identificar-me em vez de me sentir entre inimigos.