sexta-feira, julho 29, 2005

never ending story

uma torneira avariada, depois uma fuga de gás, depois o pedreiro, o mijo do cão do vizinho nos sítios inesperados, depois marcar as análises, as ecografias, tentar aquela especialidade médica, esperar em listas de espera, nova torneira avariada, uma invasão de formigas, entregar papéis em repartições, ir buscar papéis a repartições, ter de chatear pessoas em repartições, passar as mãos por água fria quando está calor. E se estes gestos, se moralizados, fossem uma cavalgada da vida contra a morte?

sexta-feira, julho 15, 2005

E disse-me peça tudo a Jesus que ele dá

Hoje uma senhora de alguma idade, um rosto muito belo, espalhou fotografias suas de quando era muito jovem, sobre o balcão para que desconhecidos como nós as vissem. Os olhos e a pele brilhavam como numa criança. Tirava foto a foto do saco de plástico sem parar, sofregamente, apesar dos seus gestos e olhar doces.Talvez não estivesse a mostrar-nos as suas fotos, mas estivesse a pedir-nos que confirmássemos, com ela, ter havido outro tempo, não podia ser agora uma mulher com um casaco de malha em vez do vestido comprido de estrela de cinema. A pedir-nos que não a deixássemos morrer.

quinta-feira, julho 07, 2005

Esse viajante, tal como o outro, menos mundano e mais espantado, os dois patrícios, podiam ser Boris, a personagem mais carnal por onde quis dizer poesia. Queria mesmo era obrigar Boris a vivê-la. Deixei-o encostado a uma janela qualquer a fumar e a dar tragos pequenos numa cerveja checa muito popular nos states. Ainda aí está, aí o abandonei.