quarta-feira, maio 15, 2013

Não sei agora onde encontrar o perfume daquelas primeiras florações, que surge, inesperado, na noite. Escura como o gato que caiu do muro mais alto do castelo. Sobreviveu e foi resgatado num abraço a um torso nú e tatuado de um estrangeiro meigo e educado. Os únicos que poderão gostar deste país onde a guerra prossegue metódica e silenciosa. Os cadáveres são escondidos a maior parte das vezes. Os escribas corajosos que falam destas vítimas são silenciados com as festas de deus ou do desporto. E como nem as suas famílias suportam o sofrimento e a humilhação juntam-se aos magotes que entregam os corpos à vida que julgam possível, em simulacros de alegria. Quando a morte chegar ninguém se lembrará e se acontecer lembrar-se desejará que chegue depressa e sem dores demasiadas.