sexta-feira, novembro 07, 2003

Morremos por estarmos a mais
e estar a mais é ir morrendo em cada dia
Estar a mais é não ser o que se é ou não poder ser
e ser a hesitação de quem perdeu o rumo
e gira em torno da sua própria ausência

Mas ninguém comete o erro de não ser quem é
porque a sua identidade é o limite instransponível
de uma consciência e por mais que se extravie
está sempre no seu círculo irregovável

Assim o homem é quem é e quem não é
e entre estes contrários a tensão é insustentável
o que faz exceder-se e ser a mais

Ele terá sentido alguma vez que iria descobrir um tesouro
[oculto
e tê-lo-á procurado num armário ou atrás da porta
mas um violento jacto negro terá irrompido e ter-lhe-á cegado
[os olhos

António Ramos Rosa

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