quarta-feira, fevereiro 04, 2004

José Álvaro Morais
um peixe na Lua.


da terrível presença



Eu quero que a água fique sem álveo.
Eu quero que o vento fique sem vales.

Quero que a noite fique sem olhos
e meu coração sem a flor do ouro;

que os bois falem com as enormes folhas
e a minhoca agonize de sombra;

que reluzam os dentes da caveira
e os torpores do sirgo inundem a seda.

Posso ver o duelo da noite ferida
a lutar enroscada com o meio-dia.

Suporto um ocaso de verde veneno
e os arcos partidos onde sofre o tempo.

Mas não ilumines teu puro corpo nu
como um negro cacto coberto nos juncos.

Deixa-me uma ânsia de escuros planetas,
mas não me mostres tua cintura fresca.


Federico García Lorca

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