quarta-feira, maio 11, 2011

Garça

Hoje fui até ao rio. Pensava na graça da linha que a desenha do ombro até à nuca. A linha mais-que-perfeita. Tão bela quanto a sua argúcia. E na imensidão da água estendida sob os meus pensamentos ei-la que cruza o ar no meu olhar para vir, com o seu bico e patas negras, pousar na água, onde deslizou e outras vezes caminhou, com o seu corpo de ave esculpida indiferente à cidade nas suas costas. Indiferente aos horrores da terra, recortando o ar na sua brancura, como o meu gato negro o faz ao contrário, chamando-me para o paraíso possível. Entrevisto, adivinhado. Este pássaro vem misturar-se nos meus desejos.

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