Na primeira vez pousou no passeio, de costas para nós, esticou as asas. Ficámos em silêncio. Uma imagem de sonho no intervalo da cidade ali junto ao rio. Abanou a cabeça grácil o pescoço esguio a trança leve. As patas tão compridas, estranhas a estas paragens de pardais. Deve ser a deusa das aves. Ignorou-nos dentro do carro a espreitá-la, as palavras e a respiração suspensa. Lenta e delicada mergulhou o bico longo no lago artificial e do mesmo modo trouxe para fora da água um peixe que brilhou por segundos à luz do sol do meio do dia e escorregou, como se tudo tivesse sido combinado e encenado, como se estivesse à espera dela desde sempre para ser levado na barrida da ave branca que, sem um sobressalto, levantou voo, da mesma forma elegante como tinha pousado. Esta imagem, como uma visitação, manteve-se viva, aparecendo subterrânea em sonhos ou desejos, até à semana passada, num dia em que a Garça Branca atravessou os campos do aeroporto, o calor inóspito do nosso ruído, só para cruzar o caminho que eu fazia em direcção a uma outra graça.
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