Morremos por estarmos a mais
e estar a mais é ir morrendo em cada dia
Estar a mais é não ser o que se é ou não poder ser
e ser a hesitação de quem perdeu o rumo
e gira em torno da sua própria ausência
Mas ninguém comete o erro de não ser quem é
porque a sua identidade é o limite instransponível
de uma consciência e por mais que se extravie
está sempre no seu círculo irregovável
Assim o homem é quem é e quem não é
e entre estes contrários a tensão é insustentável
o que faz exceder-se e ser a mais
Ele terá sentido alguma vez que iria descobrir um tesouro
[oculto
e tê-lo-á procurado num armário ou atrás da porta
mas um violento jacto negro terá irrompido e ter-lhe-á cegado
[os olhos
António Ramos Rosa
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